O Estado representa a forma última de organização social a que o ser humano pode chegar? As experiências do dito “socialismo real” são as únicas e definitivas manifestações do pensamento socialista e jamais poderiam se dar de uma forma diferente da que se deram? O quanto o modo de governar e de ver o mundo dos czares influenciou o regime soviético? O capitalismo é a forma de sociedade que melhor se adapta à “natureza” competitiva dos seres humanos? Toda Revolução só pode acontecer sob rios de sangue e sofrimento, e sempre termina traindo sua motivação inicial?
No livro Teoria da História & Piotr Kropotkin, lançado em 2022 pela editora Faísca, podemos encontrar algumas explicações que nos ajudam a refletir sobre as questões levantadas no parágrafo anterior. Para nos apresentar um extenso panorama do pensamento de Piotr Kropotkin, o historiador e pesquisador porto-alegrense Marcelo Cortes, passou muitos anos dedicado à obra do cientista russo.
Geógrafo e militante anarquista, Kropotkin nasceu em Moscou, no ano de 1842 e faleceu em Dmitrov, em 1921. Militou na famosa Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e produziu um amplo trabalho teórico e científico a respeito das sociedades humanas e da natureza. Porém, como era de se esperar, devido a seus posicionamentos políticos, este pensador não teve o prestígio devido e, apenas nas últimas décadas do século XX e início do XXI, sua obra começa a ser estudada nas universidades.
Cortes é um desses estudiosos que têm mergulhado no pensamento do anarquista russo. Fazendo pontes com diferentes pensadores mais recentes, ele mostra, em seu livro, a atualidade das ideias de Kropotkin. Como a crítica à eugenia e ao racismo, detectados por ele, em sua própria época, quando o mundo experimentava a sanha colonial das potências europeias.
Inclusive, reside aí, uma das principais críticas ao anarquista. Pois, enquanto toda a esquerda, inclusive seus companheiros de ideologia, denunciavam a Primeira Guerra mundial como um conflito de nações imperialistas e nada mais, Kropotkin era enfático em afirmar que Alemanha e Império Austro-húngaro deviam ser derrotados. Eram essas potências os principais inimigos. O russo já antevia, na influência militarista prussiana que dominava a jovem nação alemã, o germe do nazismo.
Ainda, seguindo a trilha de outro russo, Bakunin, ele conjecturava sobre o destino que aguardava outra jovem nação, a União Soviética. Ao observar as práticas autoritárias de Lênin, tentou avisar o bolchevique de como aquilo poderia terminar. Kropotkin seria isolado pelo regime soviético.
Na área científica, combateu o “darwinismo social” com o seu conceito de ajuda mútua. Onde ele defendia que o fator que leva à evolução é a cooperação entre os seres vivos e não a competição. Também elaborou diversos estudos que serviam para produzir propostas de superação da exploração capitalista, como a diminuição da jornada de trabalho e uma produção econômica mais racional, preocupada com o bem-estar das pessoas e não com o lucro de poucos.
Obra essencial para o desenvolvimento de novas formas de pensar a sociedade, a ciência e o trabalho político. Para adquirir o livro: editora faísca.